sexta-feira, 4 de julho de 2008

Emergência pediátrica

Esse período de chuva é de enlouquecer qualquer mãe. As crianças adoecem o tempo todo. É virose, é resfriado, é otite e por aí vai. Nariz não pára de escorrer. E vem a tosse e tantos outros sintomas que começam a preocupar. João Marcelo começou a se queixar do ouvido. Meu ouvido tá doendo, mamãe. Fiz aquele teste de apertar a região e ele gritou. Bom, acabamos indo parar na emergência pediátrica de um dos bons hospitais do Recife. Honestamente, quando penso que tenho que ir a uma dessas emergências, já fico nervosa. Porque sempre achei que em emergência deve aparecer de tudo, e meu raciocínio é de que só médicos experientes podem lidar com qualquer tipo de diagnóstico. Entretanto, o meu raciocínio deve estar completamente equivocado porque, em todas as emergências pediátricas do Recife, só colocam aqueles médicos que acabaram de sair da residência, recém-formados. Os homens são imberbes, mal olham para as crianças, e as mulheres parecem nunca ter visto uma... Sei que está parecendo que eu tenho preconceito com jovens profissionais. Mas não é isso. Há muitos jovens profissionais competentes, mas a maioria ainda não tem a experiência necessária para atuar em uma emergência pediátrica. Vejam se eu não tenho razão. João Marcelo reclamando de dor de ouvido, vou parar numa dessas emergências da vida, deparo-me com uma médica. O que é que ele tem? Nariz não pára de escorrer, tosse, está reclamando de dor de ouvido, não comeu nada hoje... Vamos examinar. Quando ela se aproxima, ele começa a chorar. Ela levanta os braços, como quem diz: Assim não dá. Eu penso: Por que escolheu pediatria, miserável? Tento confortá-lo, mostro algo para distraí-lo. Ela vem de novo. O menino abre o berreiro. Ela faz o exame relâmpago e diz num tom desagradável, de quem quer se ver livre do chororô: Pronto! Acho que ela queria mesmo era dizer: Pronto, menino, pode parar com o berreiro! Mas eu estava lá, olhando para ela, firme, e ela não era doida a esse ponto. Ela diz: Ele não tem nada no ouvido. Vamos passar o Polaramine - um antialérgico para essa tosse. Claro, conheço o antialérgico. Só que o alergologista dele - menciono o nome - não quer que ele use esse antialérgico em qualquer situação porque João Marcelo é alérgico à proteína do leite de vaca. Quando há algum episódio em que ele tem contato com o leite de vaca, o Polaramine é utilizado e o médico quer evitar o uso em outras situações para que não se crie uma resistência e o Polaramine não atue tão bem quanto deveria. Resposta: A senhora é quem sabe. Se o doutor - menciona o nome - disse, eu acredito. Até porque ele tem mais experiência do que eu. Tive vontade de dizer: Sem sombra de dúvida. Mas calei. Esperei que ela receitasse outro antialérgico diante da sua própria reflexão, mas a moça também se calou e eu percebi que havia um impasse. Ela esperava a minha decisão. Fiquei pensando: será que não existe outro antialérgico no mundo ou ela simplesmente desconhece qualquer outro? Cheguei à conclusão de que a segunda alternativa era mais provável e me resignei. Eu tenho Polaramine em casa. Mas a médica fez questão de concluir o trabalho dela. Escreveu na receita: 2,5ml de manhã, 2,5ml à noite. Peguei a receita, saí do hospital e, ainda no meio da rua, marquei uma consulta com o alergologista do meu filho, implorando para a secretária me encaixar no dia seguinte. Nem que eu precisasse esperar horas. Ela se comoveu. Detalhe: o médico, ao examiná-lo, disse que ele estava com um princípio de otite, receitou antibiótico e (pasmem!) outro antialérgico. Confirmei minha suspeita: Polaramine era o único antialérgico que a doutora conhecia...

Um comentário:

(A estrangeira) Cristina Alcântara disse...

Será que essa MÉDICA sabia o que era esfíncter????