segunda-feira, 30 de junho de 2008

De volta pra casa

Deixei João Marcelo às 7h40 na escola. Às 9h15, já no trabalho, recebo um telefonema da coordenadora: "Ele está febril e chamando você o tempo todo"... Olhei pra minha mesa cheia de papel e avaliei as pendências. Eram inúmeras. Liguei para o pai que se dispôs a ir buscá-lo. Mas meu lado mãe falou mais alto que o lado profissional. Não, eu vou. Ele está me chamando. Parei tudo e fiz o percurso de 25 minutos até a escola. Ia pensando nos outros 25 minutos até a nossa casa, chegar, tirar a temperatura, dar o remédio, a despedida... A despedida é sempre longa quando ele está dengoso. Depois, mais dez minutos de casa para o trabalho. Calculei cerca de uma hora e meia de atraso. Mas já estava no carro... Cheguei à escola e ele me abraçou: Vamos pra casa, vamos? Vamos, filho. Entramos no carro. Ele olhou pra mim aconchegado pelo meu abraço e disse: Amo tu, mamãe. Também te amo, filho. Foi então que entendi: o único tempo que não se recupera é aquele que não disponibilizamos para os nossos filhos.

Pai sabe o que é esfíncter

Meu marido, o pai, disse que todo mundo sabe o que é esfíncter. Com delicadeza, disse que pegou mal o fato de eu, uma jornalista, não saber o que é esfíncter. Pois é, não conhecia mesmo a nomenclatura técnica... Também todo mundo acha que a maioria dos (as) jornalistas é burra, mesmo. Só estou ajudando a confirmar a tese (mil perdões à categoria). Agora, cá pra nós, já pensou se o pai estivesse escalado para fazer a passagem das fraldas para as cuecas? Posso até imaginar a técnica usada: "João Marcelo, você está fazendo xixi por todo canto da casa porque não consegue controlar o seu esfíncter". Outra, sem maiores explicações: "João Marcelo, assim não dá. Controle o seu esfíncter!" Desculpem pela ignorância. As desculpas são mais que necessárias agora que descobri que todos sabem o que é esfíncter... Pois é, blog não serve nem para enriquecer vocabulário...

domingo, 29 de junho de 2008

Controlando o esfíncter...

Se vocês acham que ser mãe é só trocar fraldas, viver pra lá e pra cá dentro de casa, administrando menino, e fofocar com outras mães as últimas do xuxuzinho... Estão enganados (as)! Mãe também é cultura, saúde, sabedoria... Explico: Estamos na fase de tentar tirar a fralda de João Marcelo. Não é fácil para ninguém, diga-se de passagem. Bota cueca. O menino se esquece de pedir para ir ao banheiro, faz xixi ali mesmo, no meio da sala. Limpa. Daqui a pouco você vê o xuxuzinho bem quietinho, encostado no sofá, meio desolado. Está triste, filho? Não, mãe. Está cansado? Não... Você não está com febre... Ele ri e diz: Fez cocô. Claro! Toda aquela concentração, só podia estar fazendo cocô. É lógico que o menino não estava fazendo nenhuma meditação transcendental! Como eu não havia pensado nisso antes? Foi aí que entrou a minha sabedoria. Sabe como é, pra ficar sabida, a gente precisa ser meio burra... Fui pesquisar um pouco sobre a retirada das fraldas. Vasta literatura! Mas eu só queria uma dica, uma dicazinha de nada. E nada. Só aquelas coisas meio prontas: toda criança tem seu tempo; não pressione a criança, o resultado pode ser o inverso... Isso que todas nós sabemos. Mas eu não queria nada desse blá blá blá... Eu queria uma dica de como facilitar o ritual de passagem do menino com fralda para o menino de cueca. Só isso. Entretanto, nessa pesquisa, encontrei uma informação que eu não conhecia cientificamente. É claro que eu sabia que nós nos controlamos para não sair fazendo xixi e cocô por aí... Mas não sabia o detalhe... Foi quando descobri o "esfíncter". Mãe descobre de um tudo. Esfíncter, para quem não sabe (olha aí, blog também ajuda a enriquecer o vocabulário), é um músculo que "controla o grau de amplitude de um determinado orifício". Entre outros, o ser humano tem o esfíncter uretral e o anal. Pronto. Agora eu já sabia o que João Marcelo tinha que controlar. Só faltava descobrir como... Discretamente, comecei a observar o tempo que ele levava entre um xixi e outro. Confesso que não deu pra avaliar a freqüência porque ele controla o esfíncter que é uma beleza. Também, quando libera, é de vez! Eu precisava de um sinal. Ele deu. Depois de um certo tempo sem fazer xixi, no meio da brincadeira, começava a segurar a pitoca. Filho, quer fazer xixi? Resposta óbvia: Não. Entendi, depois de algumas observações acuradas, que ele não queria parar a brincadeira e perder tempo fazendo xixi. Tinha todo o sentido. O negócio era continuar brincando. Então lembrei a brincadeira da estátua. A gente grita: Estátua! E fica todo mundo parado. João Marcelo é o único que pode correr, andar, pular e... até fazer xixi! A gente só volta ao normal quando ele faz xixi. Ele acha o máximo! Tem a sensação de que não perdeu nada, imagino. Nós, que ficamos esperando imóveis, torcemos para que ele acabe logo o serviço. Aí ele volta e nós saímos da posição de estátua. Nós agradecemos e o esfíncter uretral dele também... Agora só preciso descobrir a mágica para o outro esfíncter. Mas isso virá... Com o tempo, como diz a literatura, os (as) psicólogos (as), os pedagogos (as)...

sábado, 28 de junho de 2008

Limites para quem precisa...

...E todo mundo precisa. As crianças precisam. Até a minha! Tão linda, tão meiga, tão dengosa... Quem diria que ele, aos 2 anos e meio, estaria me tirando do sério... Achei que isso só viria na pré-adolescência, adolescência, sei lá! Mas, não! Filho, vamos escovar os dentes! Não vou! Não quero! Depois da alimentação, você precisa escovar os dentes para não criar bichinho... Eu quero criar bichinho... Não escovo! Dá para acreditar? Mas escova, sim. Primeiro tento de todas as formas lúdicas... Depois, na base da conversa. Por último, escova porque é falta de higiene não escovar e, se eu deixar, daqui a pouco ele não quer tomar banho, não quer dormir, não quer ajudar a guardar os brinquedos, não quer nada... Cresce louco, completamente sem limite. E eu não passei nove meses grávida, pari e amamentei para meu filho crescer desequilibrado... Colocar filho no mundo é um compromisso social. Temos, sim, responsabilidade com o tipo de ser humano em que eles se tornam. Já ouvi mãe dizendo: "É tão difícil dizer não..." Discordo em gênero, número e grau. É muto fácil dizer não. Basta que se tenha a convicção de que esse "não" é para o bem da criança. A partir dessa ótica, fica tão fácil quanto dizer "sim". Se a frase fosse: "Dá tanto trabalho dizer não...", aí eu concordaria. Dá mesmo trabalho. Educar é trabalhoso, cansa, desgasta, mas os resultados compensam. Só não acredito na educação à base de tapa, safanões e pisa. Bater não educa, amedronta, apavora. Como aquela pessoa que existe para me proteger é a que me agride? Eles (as) devem pensar, desprotegidos (as). Agora, realmente, umas lapadas dão menos trabalho do que as tentativas lúdicas, as conversas e o exercício da autoridade... O exercício da força sempre foi mais simples de se praticar. Principalmente, quando estamos falando de um adulto para com uma criança. Ora, vejam: meu filho tem 93cm de altura, eu tenho 1,55m, meu marido 1,85m. Até eu, baixinha como sou, devo parecer uma gigante para meu filhote. O pai, nem se fala! Ora, vão brigar com gente do tamanho de vocês... Arrumem um tempinho e, no lugar de bater, conversem, ouçam. Talvez assim vocês descubram quem mais, além das crianças, precisa de limites...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sobre São João, fogos e medo

Descobri neste São João como os adultos têm medo... Do medo. João Marcelo se assustou bastante com os fogos de São João. Para quem não é familiarizado com a festa junina, especialmente nos dias 23 e 24 de junho, no Nordeste, não faltam fogos de artifício. É um espetáculo de luz e... de barulho, muito barulho. Agora mesmo posso ouvir pela janela os fogos que comemoram o nascimento de João Batista, São João. Acontece que João Marcelo ficou assustado com os estrondos provocados pela tradição junina. Estávamos em Gravatá, uma cidade serrana a 85km do Recife, capital pernambucana. A família reunida em grande parte e em revezamento... Ele, então, fez a confissão pública: "Tô com medo dos fogos..." E, nos meus braços, não parava de repetir para tios, tias, avôs: "Tô com medo dos fogos..." E se agarrava, com medo (quase pavor), ao meu pescoço. Então, as pessoas tentavam consolá-lo, dizendo, naturalmente, que não era para ter medo, que não ia acontecer nada com ele. Eu disse que estávamos todos ali para protegê-lo etc e tal... Em um determinado momento, estimulado por esses apoios, ele pareceu superar o medo e gostou muito quando tia Camille acendeu uma árvorde de natal (é o nome do fogo - as luzes sobem em um formato parecido com a árvore de natal). Bateu palmas e gritou: "Viva São João!" Chegou até a pisar nos "traques de massa" (outro que faz um barulho insistente)... Mas recuou. Voltou a sentir medo e a pedir a todos que parassem de soltar fogos, por favor... O fato é que todos estavam concentrados no medo e preocupados com o fato de que ele tinha que se acostumar com o barulho... Eu, entretanto, confesso, achei maravilhoso que meu filho pudesse expressar seu medo. Mostrar-se seguro o suficiente para dizer: "Estou com medo". Da sua forma infantil, queria se afastar daquilo que o amedrontava. Olhou para mim e disse: "Mamãe, vamos se esconder dos fogos, vamos?" Eu sei o que alguns (as) de vocês vão dizer: "É Coisa de mãe ver por esse lado. Assim, ele vai crescer medroso..." Será? Será que o primeiro passo para superarmos o medo não é identificá-lo? Assumi-lo? Por que quando até mesmo as crianças dizem abertamente que estão com medo tratamos logo de minimizá-lo? Porque o medo não é aceito com naturalidade. Nós sempre dizemos: "Não tenha medo..." Por que não dizemos: "Você tem todas as razões para estar com medo..."? Porque em geral não nos colocamos no lugar do Outro. Não estabelecemos uma relação de empatia. Mais ou menos assim: "Se eu tivesse dois anos e meio de idade, eu também estaria com medo desses fogos, desse barulho, desse caos... Então, o medo dele não é infundado..." Passei os nove meses da minha gravidez me preparando para um parto normal. Engordei apenas 9kg, fiz Yoga, hidroginástica... Na hora H, João Marcelo estava laçado. Resultado: cesariana. As pessoas me diziam (até as que nunca tiveram nenê, homens, inclusive): "Não tenha medo... É tranqüilo!" Imaginem como esse frase me confortava! Entretanto, ainda acho que o medo feminino é visto com uma certa complacência. O medo dos homens, esse é encarado com total intolerância. Talvez aquela herança cultural machista... João Marcelo é um menino. Provavelmente não por coincidência, mas por um movimento inconsciente e coletivo, os tios e avôs tenham insistido no discurso: "Não tenha medo! Os fogos não fazem medo, não!" Entendo a tentativa deles, não era uma inadequação... Era uma incompreensão, apenas. Talvez porque João Marcelo tenha verbalizado de forma tão repetitiva seu medo que nos sentimos todos desconfortáveis e impotentes. Inclusive, eu... Não é Coisa de mãe querer proteger e apagar qualquer sinal de sentimento negativo que um filho expresse? Senti-me tão impotente naquele abraço apertado e ligeiramente trêmulo... Queria tanto que ele parasse de ter medo... Ao mesmo tempo, estava tão orgulhosa porque meu filho é capaz de expressar seus sentimentos com tanta segurança e clareza... Que João Marcelo possa crescer falando dos seus medos... Acredito piamente, sem medo de errar, por exemplo, que assim ele será um adulto mais corajoso e forte. Essa é minha oração a São João - o santo que protege meu filho - nesta noite linda em que os fogos não param de piscar e de fazer barulho, muito barulho...

sábado, 21 de junho de 2008

Ainda sobre o sono...

Vou ter que esclarecer algumas questões da última postagem porque recebi e-mails com várias dúvidas... Quando eu disse que João Marcelo dorme comigo não fui clara. Eu quis dizer que o coloco para dormir toda noite. É isso. Ele não dorme a noite inteira comigo. Quanto a isso, somos rígidos. Desde sempre, eu o coloco para dormir no quarto dele, no sofá-cama, e depois o coloco no berço, onde ele dorme a noite inteira, sono profundo. Não dorme na nossa cama. Nunca, nem quando era bebê, dormia na nossa cama. Desde os dois meses de idade, nós o tiramos do nosso quarto e o deixamos no cantinho dele. Quanto a esses aspectos, concordo com os estudiosos da área: a criança tem que ter sua individualidade, seu canto, reconhecê-lo como seu espaço. Para os pais, é importante também essa privacidade. Corrijo: é imprescindível. Na postagem anterior eu estava me referindo a colocá-lo para dormir. Era desse momento sagrado que estava falando...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aquele sagrado momento do sono...

Desde que nasceu, João Marcelo dorme comigo. Os psicólogos, pediatras e teóricos em geral que falam sobre relações entre pais e filhos devem estar de orelha em pé. Já li vasta literatura sobre a importância de a criança dormir só. "É importante para a autonomia delas", "crescerão mais seguras" e tudo o mais. Tenho certeza de que são pessoas com uma bagagem de conhecimento bastante respeitável e que não levantam essa bandeira aleatoriamente... Entretanto, eu, mera mortal, uma simples mãe (e já dizia a música que "mãe é mãe, vaca é vaca") ignoro completamente essa teoria. Talvez por mero egoísmo mesmo... E, então, vocês vão dizer: "Não é Coisa de mãe ser egoísta!" Quanto romantismo! Mãe é egoísta também! Confesso: não abro mão de colocar meu filho para dormir. É o momento mais calmo do dia: ele já tomou banho, já comeu, escovou os dentes, está vestido com aqueles pijaminhas lindos e macios e olha pra mim com o olhinho já miúdo e diz: "Quer domir com tu, mamãe...". E vocês acham que, para ser adequada, eu devo dizer: "Não, filho, assim você não vai crescer seguro..." Tenham paciência. Desculpem se estou sendo politicamente incorreta, mas é isso mesmo: Tenham paciência! Nem pensar! Não vou abrir mão desse momento sagraaaaaaaado. Converso com ele, brinco, conto historinhas e dou limite: "Agora é hora de dormir. Vamos ficar quietinhos". Quando João Marcelo tinha uns nove meses, Marcelo comprou o livro "Nana, nenê - como resolver o problema da insônia do seu filho". Na verdade, João Marcelo, a partir dos três meses, já dormia a noite inteira (das 21h às 5h do dia seguinte), mas lá pelos nove meses começaram a aparecer os dentes e ele queria mamar para coçar a gengiva. Estranhamos, claro, e a pediatra dele - excelente, diga-se de passagem - conversou longamente sobre a insônia do meu gordo e disse, nem indicando nem sugerindo, apenas citando: "Há pessoas que usam esse livro e se dão bem... Se vocês conseguirem..." Compramos mais por curiosidade. Lemos o primeiro capítulo, o segundo - "Não o façam dormir, ele tem de conseguir sozinho" - e fechamos o livro. Não funcionaria comigo... Nunca. Tem um quadro que diz o que não devemos fazer para a criança dormir. Com alguns casos, eu até concordo, como dar uma volta de carro com ele ou deixá-lo andar de um lado para outro até cair exausto, mas essa história de não cantar para ele, não embalá-lo no berço ou no colo ou sequer dar-lhe a mão... Definitivamente, não me convence. João Marcelo dorme bem, a noite inteira desde sempre - com exceção desse período da dentição - e eu sempre cantei para ele, sempre fiz carinho e o embalei. Ele sabe que está na hora de dormir, já conhece sua rotina e o momento do sono é sagrado... pra nós dois. Pelo menos, por enquanto. Conclusão: não há fórmulas mesmo. A regra é construir uma relação saudável, com amor e respeito. E pasmem: às vezes é bom se insurgir contra esses manuais que insistem em tentar nos ensinar a criar nossos filhos. Se isso é egoísmo, então lembrem-se: Mãe também é egoísta.

domingo, 15 de junho de 2008

Com medo da dor

Há três meses, estamos às voltas com o medo da dor... A dor que João Marcelo vai sentir ao se submeter ao sétimo exame de sangue (pela minhas contas, é o sétimo) durante seus dois anos e quase seis meses de vida. Parece estranho "medo da dor". A princípio me pareceu também. Mas é isso mesmo... Temos medo do que essa dor pode representar, ou melhor, do que já representa. Não podemos passar perto de algum laboratório ou hospital que ele já aponta o lugar e relata: "Chorei muito aqui, mamãe..." Ele reconhece os lugares... Quando vamos à pediatra, como consulta de rotina, é um estresse. Ele odeia a palavra "médico"... Pra tomar as duas gotinhas da campanha de vacinação contra a poliomielite (ou pólio) foi outro estresse... Ele disse que as duas gotinhas doeram muiiiiiiito! Vou contextualizar. Acho que ainda não falei nesse assunto. João Marcelo é alérgico à proteína do leite de vaca. Ele não pode ouvir nem o "muuuu" da vaquinha, presente no universo lúdico da maioria das crianças... Devido à alergia, ele costuma ir a pediatra, alergologista e gastropediatra com mais freqüência que as demais crianças (imagino...) Houve também alguns acidentes em que ele teve contato com leite de vaca e precisou ir ao hospital. Preste atenção: contato, não necessariamente ingestão. Sentiu o drama? A alergia dele é daquelas... Então, como eu ia dizendo, estamos às voltas com o medo da dor que ele, com certeza, sentirá. Então, este final de semana, resolvi refletir sobre isso e cheguei à seguinte conclusão: podemos até adiá-la, mas não evitá-la. João Marcelo, até para ficar melhor, terá que passar por essa dor. Ela é realmente inevitável. Ponto final. Como outras dores que ele sentirá e que nós, mãe e pai, contemplaremos impotentes. Há uma frase de Nietzche: "O que não pode matar-me, torna-me forte". Deve ser um consolo. Mas agora me ocorreu: acho que o medo que sentimos - mãe e pai - não é da dor de João Marcelo. É da nossa própria, ao vê-lo indefeso, gritando de medo, de dor e de nervosismo... Talvez todo esse adiamento tenha sido para evitar nossa própria dor... Bom, não poderemos mais postergar: João Marcelo fará esse exame amanhã.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Mães, filhas e uma viagem de metrô

Sábado, 9h30. Saí pela Avenida Paulista rumo à Estação da Consolação. Como boa turista, queria conhecer o Museu de Língua Portuguesa, na Estação da Luz. Logo na fila para comprar o bilhete, encontrei a avó, a mãe, a filha e o filho. De repente, ouvi quando a filha disparou: "Você tá ficando muito chata, mamãe!" Tinha uns 14 anos, no máximo. A mãe arregalou os olhos, mas ficou paralizada. Não balbuciou uma palavra sequer. A menina, louca para assumir sua rebeldia típica da adolescência, falou com tal veemência que eu me choquei também. Inevitavelmente, fui mobilizada pela empatia e imaginei João Marcelo daqui a alguns anos dizendo a mesma frase. Fiquei comovida. Mesmo agora, contando, fico emocionada. Talvez o texto não traduza a força com que a filha pronunciou tais palavras aparentemente tolas, vindas de uma adolescente. Entretanto, na forma, a garota foi impiedosa. Lembrei-me de mim, quando adolescente. Lembrei-me de situações em que fui impiedosa com minha mãe. Talvez por isso tenha sentido tão intensamente as palavras. Daí por diante, não consegui parar de ouvir. Não me condenem: além da empatia, da curiosidade natural do ser humano, eu precisava de material para o blog... A avó, mãe da mãe, compôs o quadro belíssimamente. Foi em defesa da sua filha, ou seja, da mãe. Quem poderia condená-la? Afinal não é isso que as mães fazem: correm em defesa dos filhos (as)? "Sua boca é uma peixeira, fulana! Corta, dilacera..." Disparou com a mesma veemência que a garota. O silêncio da mãe, preenchido pelas palavras da avó, deu-me um certo conforto. A mãe continuou silenciosa e como aquele silêncio era eloqüente... Entramos no metrô, íamos na mesma direção. A menina respondeu também com o silêncio. Eu queria falar, claro! Dizer que ela um dia seria mãe e entenderia o que nós estávamos sentindo - eu, a mãe e a avó. Sempre me disseram isso quando eu era uma adolescente, mas só vim entender o verdadeiro sentido dessas palavras depois que tive João Marcelo, embora ainda não as tenha ouvido. Só de imaginar em um dia chegar a ouvi-las, já compreendo. A avó não parou ali. Ao longo da viagem, encostou-se junto à garota, em pé, e foi falando: "Fulana, você afasta as pessoas. Você quer ficar só? É isso que você quer? Ninguém quer estar perto de uma pessoa agressiva assim..." A menina, calada. Só ouvia, mas já dava para perceber a vergonha, escondida pela cabeça baixa. A mãe estava com os olhos marejados, mas não derramou a lágrima que insistia em nebular sua visão. Estava firme, apoiada no filho mais novo. O filho, de uns sete anos, era só carinhos, abraçado com a mãe, ciente de que ela precisava do seu apoio naquele momento. Ouvira tudo e perguntara a avó, com inocência: "O que é peixeira?" A avó explicara, didática. Tive vontade de perguntar: "A senhora é do Nordeste?" Reprimi meus impulsos. Peixeira é uma das 2.500 palavras e expressões que o escritor Fred Navarro classificou como nordestina, em uma pesquisa interessante que se transformou no livro Assim falava Lampião. O facão é curto e afiado, utilizado para cortar peixe. A avó explicou com a propriedade de quem entendia do que falava... E falava sem sotaque. Quer dizer, com o meu sotaque... Devia ser uma das tantas nordestinas moradoras de São Paulo... A menina estava cabisbaixa. A mãe, profundamente triste. De vez em quando, olhava para menina, quando esta se mostrava distraída. Eu não conseguia parar de observar sua reação. O menino voltava a abraçá-la, como que a defendê-la da peixeira da irmã... A avó parou o sermão e a menina sentou-se afastada. Foi quando anunciaram: Estação São Bento. A mãe perguntou: "É aqui, mãe?" A avó respondeu, distraída: "São Bento? É..." Reuniram-se a avó, a mãe e o filho. Faltava a menina. De onde eu estava, podia vê-la... A mãe perguntou: "Cadê fulana?" A avó localizou a menina e chamou-a pelo nome. A menina veio, ficou atrás dos três... Tive vontade de não ir mais para o Museu e descer em São Bento, sair seguindo a família pelas ruas de São Paulo. Não fiz isso... Preferi imaginar o desfecho: A filha fitaria a mãe intensamente e pediria desculpas. Então, finalmente, a lágrima correria livremente pelo rosto jovem da mãe...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A seguir, cenas do próximo capítulo...

Amanhã, vou contar a vocês uma estória sobre três gerações de mães e filhas que presenciei no metrô de São Paulo, indo da Consolação para a Estação da Luz... Talvez corriqueira, mas cheia de Coisa de mãe...

A pausa

"A vida precisa de pausas". A frase de Carlos Drummond de Andrade é poética, mas eu vou parafraseá-lo: "Pais precisam de pausas". Precisam de pausas para não fazer nada, para ficar junto, para ficar separado. Uma pausa, qualquer que seja ela. Crianças, vamos fazer uma pausa? É importante para a mãe (que por acaso também é uma mulher), para o pai (que por acaso também é um homem, ser humano de carne e osso), para o casal, nem se fala! Agora, para as crianças, acho que essa pausa é fundamental!!! Não, não é desculpa de mãe cheia de culpa... Enfim, não é Coisa de mãe achar que é bom para as crianças que os pais se ausentem... Claro que não! Mãe sempre acha que o melhor para os filhos é que ela esteja colada neles, meio galinha e pintinhos... Mas sabe que não é? Vamos lá, dê uma pausa. Páre de girar a cabeça de um lado para o outro em tom de desaprovação. Agora leia o argumento. Obrigada, depois pode discordar à vontade. A pausa, um final de semana acompanhada ou sozinha, por exemplo, só traz coisas boas: primeiro, a saudade. Você sente, as crianças sentem. Cadê mamãe? Quando ela chega? A ausência nos ajuda a valorizar a presença, em geral. O ser humano é um pouco assim mesmo... Inclusive as crianças. A sua disponibilidade total muitas vezes não é levada em conta. Por outro lado, você também valoriza: dá um trabalho, mas é tão bom ter filhos... Segundo, a liberdade. Vocês podem se assustar com minha franqueza, mas não vou recuar: A gente perde muito da nossa liberdade depois que temos filhos. Claro. Dizer diferente seria tapar o sol com a peneira. É ótimo, mas renunciamos a algumas coisas, inclusive a muito da nossa liberdade. Terceiro, o contraditório. Mães, já ouviram a seguinte frase: "Ele (ela) estava bem até agora, mãe, mas, você chegou, ele (ela) começou a chorar - ou a se irritar, ou a ser mal educado (a) etc? Pois é, ainda temos que ouvir dessas... Então, chegamos à conclusão de que as crianças ficam bem quando não estamos presentes. Ou seja, elas também precisam de pausas (se as suas crianças já são adolescentes, vão precisar ainda mais)! Bom, essa conversa toda não é para justificar as viagens que fiz recentemente. É só pra lembrar que não precisamos estabelecer uma relação simbiótica e dependente com nossos filhos para amá-los. Pelo contrário: amá-los significa deixá-los livres e nos permitir essa liberdade também. O amor não diminui com a ausência esporádica. Pelo contrário, aumenta! Muito! Deixá-los livres, confiados a pessoas da família, por exemplo, pode ser um exercício de muito amor. Até porque não é fácil viajar e deixá-los. Com certeza, esse gesto de sair de cena pode representar bastante para a auto-estima de uma criança que começa a ter mais autonomia. E autonomia é algo que eles (elas) têm que descobrir e desenvolver desde cedo, para crescerem seguros (as), certos (as) de que são amados (as) profundamente. Pais, dêem uma pausa,,,,,,,,,,,,,,,,,

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Curtas

Segunda: dia de amenidades. João Marcelo ao se despedir hoje da professora Rosa: "Tchau, minha flor!". Ao entrar no carro com o pai, depois da escola: "Cadê minha mãe?". O pai respondeu: "Está trabalhando" Ele: "Vou ligar pra ela e dizer pra ela não trabalhar e ir pra minha casa". À noite, na hora de dormir, dirigindo-se ao pai: "Quero dormir com minha mãe, com tu e com mim" Ainda na hora de dormir (eita hora longa...): "Mamãe, tô triste. O lobo mau tomou meu mingau" Respondi: "Vou mandar fazer mais mingau..." Ele: "O lobo mau é mim, mamãe" Eita mãe besta, meu Deus!

domingo, 1 de junho de 2008

A volta

Pois é, pessoal, voltei. Nenhum imprevisto. Tudo está no seu lugar. Ótimo, porque semana que vem eu viajarei de novo! Mesmo esquema: pai e mãe, ouro de mina... Meus pais novamente ficarão com João Marcelo. Fico com pena deles porque sei que cansa, mas, embora pareça, não é sempre que eu e Marcelo saímos pelo meio do mundo. A volta foi tranqüila. João Marcelo só demorou uma hora e meia pra dormir depois que entramos no quarto, com as luzes todas apagadas e aquele som infalível, tocando lindas canções de ninar. Rápido, não? Quando cheguei, tinha novidades: o avô tinha feito tudo que o neto queria... Comprou um bicho de pelúcia (o Leitão, da coleção do urso Pooh) por R$ 150,00 e achou uma pechincha. "Papai, foi um absurdo! A gente sempre explica pra ele que não tem condição de comprar esses brinquedos caros e ele termina levando qualquer brinquedinho de até R$ 5,00", reclamei. Papai olhou pra mim e disse: "Achei que ainda estava lucrando, porque o primeiro brinquedo de que ele gostou era um bicho de pelúcia de R$ 600,00. Por isso, quando ele fez a troca, comprei sem pestanejar..." Coisa de avô...